“Ação pela Cidadania” é um projeto que busca, mais do que ensinar uma profissão, ajudar jovens carentes a resgatar a autoestima. É assim que define o fundador da proposta André Actis, que tem transmitido aos jovens que participam do Ação seus conhecimentos em artes cênicas e audiovisuais, tendo como principal objetivo despertar neles o senso da responsabilidade e humildade por meio da arte.

 

Como começou esse projeto que você desenvolve no Pelourinho?

Aos 10 anos tive meu primeiro contato com a arte, no Nordeste de Amaralina, bairro em que morei com minha mãe e nove irmãos durante 22 anos. A experiência me fez perceber que a vida não era fácil. Tinha que aproveitar as oportunidades e foi no teatro que vi uma nova perspectiva para meu futuro.

 

Quando surgiu a idéia de criar uma ONG?

Eu sempre tive o sonho de construir um trabalho social voltado para os jovens, em especial no bairro em que morei durante tanto tempo. A “Ação pela Cidadania” foi criada em 2003 tendo como primeiro projeto o “Armazém das Artes”, um curso de formação artística inicialmente desenvolvido com jovens do Nordeste de Amaralina, que passaram a ter acesso a todo processo das artes cênicas. Os jovens aprendiam técnicas de produção, cenografia, figurino, além de português, inglês e informática. Em 2005, a proposta é levada para a Ilha de Itaparica.

 

Como a ONG sobrevive?

A gente corre atrás de patrocínio. Há algumas empresas que colaboram com o projeto e temos também o apoio da Unesco e do Ministério da Cultura, sem esquecer a parceria com o governo do Estado, mas precisamente com a Secretaria da Pobreza e Desenvolvimento Social que apostou no nosso projeto. A Sedes é parceira no TV Pelourinho, um desdobramento da proposta inicial. A gente entra com toda a tecnologia e mão de obra, e os patrocinadores participam com o pagamento de professores, da bolsa dos estudantes, manutenção das instalações, enfim, com despesas diversas.

 

Quando você pensou o projeto tinha idéia de que ele poderia alcançar essa dimensão?

No primeiro momento não. Eu só queria fazer no bairro o que foi feito na minha época. Porque acho fantástico o toque que a arte dá em nossa vida enquanto cidadão. Ela mexe com a sensibilidade, o modo como percebemos as coisas. Hoje, tenho pensamentos crítico e autocrítico diferente. A arte mudou a minha vida. E com a TV Pelourinho vejo este projeto concretizado. Já temos outros núcleos também aqui no Curuzu, em Itamaraju e Irecê.

 

O que é exatamente o projeto TV Pelourinho?

O TV Pelourinho busca não apenas ensinar uma profissão, mas “resgatar” a cidadania de jovens carentes inserindo-os no mercado audiovisual. A princípio, o projeto, instalado no Pelourinho, tinha como público alvo a comunidade local, mas isso foi ampliado e hoje aceitamos jovens de toda a cidade. O TV Pelourinho surgiu a partir do projeto inicial que desenvolvíamos no Nordeste de Amaralina. Em 2006, participamos de edital da Unesco que permitiu o funcionamento do projeto “Armazém das Artes” na Casa de Angola, no Centro Histórico de Salvador, para atender à jovens daquela comunidade. O conceito do projeto era o mesmo que já vínhamos desenvolvendo. A proposta foi ampliada e hoje o projeto atende mais de 800 jovens na Bahia. E isso não significa transformar uma pessoa pobre em rica, mas fustigar o jovem ao que ele quer ser. Ajudá-lo a perceber as coisas positivas da vida. E mesmo que ele não siga carreira na profissão que aprendeu, ao menos leva consigo a experiência que a arte lhe proporcionou.

 

Quem são os jovens que integram o TV Pelourinho?

Alguns critérios são impostos. Para participar do projeto o interessado deve ser de família carente, com renda familiar de meio salário mínimo, ter idade entre 16 e 29 anos e estar efetivamente matriculado e cursando escola da rede pública de ensino. A frequência é cobrada. Nós divulgamos o projeto e os interessados nos procuram para fazer a inscrição. Eles passam por um processo de seleção e são avaliados por assistente social e profissional da área de áudio visual, para que tenham idéia do que oferecemos e possam se certificar do que realmente querem do curso.

 

Qual é o resultado deste trabalho?

Mais de 1.850 jovens já passaram pelo projeto “Ação pela Cidadania”. Eles são capacitados em uma profissão e passam a ser multiplicadores. Muitos dos que passaram pelos nossos cursos de formação são aproveitados por nós mesmo. Atualmente, interagimos com mais de 400 jovens em Salvador e outros do interior. Ensinamos práticas audiovisuais, proporcionando-lhes possibilidade de adquirir uma profissão. Mais do que ensinar as técnicas – usamos equipamentos de última geração e damos a eles a oportunidade de trabalharem com o que há de mais moderno em termos de equipamentos ajudamos a despertar neles o senso da responsabilidade e humildade. Eu diria que formamos profissionais competentes e humanos, que preparamos esses jovens para um mercado cada vez mais competitivo e exigente. Passamos para eles a conscientização da importância de estar bem preparado para alcançar seus objetivos, a lição de que, para se conseguir algo na vida é preciso estudar e trabalhar muito.